Viúva Negra (3)
Viúva Negra

Título Original

Black Widow

Lançamento

9 de julho de 2021

Direção

Cate Shortland

Roteiro

Eric Pearson

Elenco

Scarlett Johansson, Florence Pugh, David Harbour, Rachel Weisz, Olga Kurylenko, William Hurt, O-T Fagbenle e Ray Winstone

Duração

133 minutos

Gênero

Nacionalidade

EUA

Produção

Kevin Feige

Distribuidor

Disney

Sinopse

Natasha Romanoff confronta as partes obscuras de sua racionalidade quando uma perigosa conspiração atada ao seu passado vem à tona. Perseguida por uma força que não vai parar até destruí-la, Natasha deve lidar com sua história como espiã e com os relacionamentos despedaçados deixados para trás depois de se tornar uma Vingadora.

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Viúva Negra | Crítica

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Por que a Marvel demorou 11 anos para enfim produzir um filme sobre a Viúva Negra, mesmo após praticamente todos os demais Vingadores ganharem duas/três aventuras só para eles, é um mistério que nem assistindo a todos os 24 longas do MCU somos capazes de desvendar. Seja como for, é uma pena que uma personagem intrigante como Natasha Romanoff tenha permanecido nas entrelinhas das narrativas do estúdio por tanto tempo, tornando esta sua história solo uma proposta tardia (uma reclamação também feita a Capitã Marvel). Mais frustrante ainda, porém, é perceber que nem agora com seu próprio filme a Viúva se tornou uma personagem mais instigante ou complexa do que já era – o que ajuda a cimentar a ideia de que, embora buscando uma correção em termos de representatividade, as super-heroínas do Universo Marvel ainda tendem a ser abordadas com bem menos apreço e cuidado do que seus colegas homens.

Seguindo o padrão dos filmes da Marvel de criar uma trama desnecessariamente complexa e inchada, o roteiro de Eric Pearson (Thor: Ragnarok, Godzilla vs Kong) se situa entre os eventos de Guerra Civil e Guerra Infinita e reencontra a espiã Natasha Romanoff logo após ela se rebelar contra parte dos Vingadores e, por consequência, ser classificada como “fora da lei” pelo governo dos Estados Unidos, sendo perseguida, então, pelo general Ross. No entanto, depois que uma figura misteriosa identificada apenas como Treinador surge para ameaçar a vida de Natasha, ela resolve ir atrás de sua irmã Yelena, sobre a qual há anos não ouvia falar, para que juntas possam descobrir o que se passa por trás daquele vilão. Mas a missão se torna ainda mais pessoal quando as duas percebem que a ameaça é orquestrada pelo mesmo general Dreykov que as sequestrou quando crianças e as atirou no Quarto Vermelho para serem treinadas e transformadas em Viúvas Negras, obrigando-as a reunir o “pai” Alexei e a “mãe” Melina para que, em família, possam derrotar os inimigos.

Já de cara, temos um problema: o fato de já conhecermos o destino da personagem em Vingadores: Ultimato e, portanto, sabermos que nada acontecerá de fato a ela aqui, eliminando qualquer traço de tensão ou mesmo a sensação de que há algo realmente em jogo neste filme – uma fraqueza recorrente nas produções da Marvel, que, de modo geral, raramente conseguem envolver o espectador a ponto de fazê-lo acreditar que o herói em cena está mesmo correndo algum perigo (afinal, por razões contratuais e/ou narrativas, ele quase sempre terá que sobreviver para chegar ao capítulo seguinte). Se somarmos isto à quantidade exorbitante de “reviravoltas” e “revelações” presentes no terceiro ato de Viúva Negra, a impressão que fica é a de um filme que está o tempo todo tentando provocar impacto sem perceber que não há razão alguma para este, fazendo os esforços do roteiro e da diretora Cate Shortland soarem artificiais como os de um algoritmo que busca identificar uma fórmula certa para levar o público à tensão, à comoção, ao riso, à catarse, etc.

Enfraquecendo até mesmo o peso do sacrifício de Natasha em Ultimato ao esvaziar completamente seu propósito (se lá ela dizia que o Gavião Arqueiro deveria ser poupado porque ele ao menos tinha uma família – ao contrário dela –, aqui descobrimos que, na verdade, ela tinha duas; como ela própria diz descobrir), Viúva Negra desaponta justo naquilo que mais justificaria sua existência (mesmo que tardia): acrescentar algo que não soubéssemos a uma heroína que achávamos já conhecer por completo. Em vez disso, porém, qualquer oportunidade de explorar uma nuance nova da personagem é descartada logo na sequência de créditos iniciais, que cobre em poucos minutos as informações que poderiam representar uma descoberta real sobre a Viúva (no caso, sobre seu passado) – e, se a descoberta de que Natasha tinha uma família poderia enriquecer sua jornada, na prática acaba servindo apenas para diluí-la em retrospecto (como já apontei) e para quebrar o ritmo do segundo ato, já que toda a “reunião familiar” que nele ocorre parece enfiada à força para inchar ainda mais uma trama que já contava com irmãs reaparecidas, vilões misteriosos e vários outros elementos.

Dito isso, a Viúva Negra segue uma personagem interessante o bastante para merecer nossa atenção – e, embora limitada por um roteiro que a impede de conferir qualquer nuance nova à personagem, ao menos Scarlett Johansson se beneficia do fato de já tê-la interpretado várias vezes e, portanto, conhecê-la de trás para frente, sendo bem-sucedida aqui ao estabelecer Natasha como uma mulher que, depois de tantos anos, finalmente conseguiu encontrar uma âncora que a conecte ao mundo real e que a permita reconhecer as próprias emoções, quebrando de vez a casca-grossa que a definia em sua estreia em Homem de Ferro 2 e se consolidando como uma heroína mais profunda que aquilo. Da mesma forma, a ótima Florence Pugh (Midsommar, Adoráveis Mulheres) estabelece Yelena como uma contraparte eficiente para Natasha, conferindo carisma à jovem espiã por mais doloroso que seja seu sotaque russo.

Aliás, o sotaque russo se encontra também em Alexei Shostakov, que, vivido por David Harbour, se estabelece como uma das figuras mais insuportáveis de toda a filmografia do MCU. Não que a culpa seja do ator; a função ocupada por este é que representa um grande problema, já que, além do fato de Alexei ser um babaca egocêntrico que jamais faz por merecer a simpatia do espectador, as constantes piadinhas feitas por ele se revelam tolas, sem graça e – pior – deslocadas em um filme que busca, na maior parte do tempo, uma atmosfera mais séria, solene e urgente (outro tropeço frequente das obras da Marvel aí: enfiar piadas nos momentos errados). Mas não é só: na vontade (louvável) de criar um legítimo “filme de espionagem”, Cate Shortland acaba combinando uma série de acenos a outros longas do gênero (Atômica, Missão: Impossível, Jason Bourne, James Bond (seja o de Daniel Craig ou o de Roger Moore), etc) sem perceber o quão diferentes estes são entre si, fazendo a identidade estilística de Viúva Negra soar desequilibrada, como se suas influências não entrassem muito em harmonia umas com as outras.

Em compensação, Shortland se sai bem melhor na condução das sequências de ação: conferindo intensidade às lutas e perseguições sem, com isso, torná-las visualmente confusas (mesmo com cortes rápidos e com a câmera movendo sem parar, nós nunca deixamos de entender o que ocorre em cena), a cineasta adota também uma dinâmica que lembra um pouco a de Christopher McQuarrie ao assumir uma relação direta entre os espaços e a ação que se passa neles, explorando as particularidades oferecidas por cada cenário, locação e objetos de cena (e usando-os, claro, para ajudar a distinguir uma set piece da outra). Além disso, a subtrama envolvendo as outras Viúvas Negras é eficaz ao remeter ao conceito de “sororidade” sem que, para isso, Shortland tenha que martelar a mensagem de forma didática e ostensiva.

O que não torna menos estranha, por outro lado, a caracterização dos vilões como personificações caricatas da “ameaça soviética”, com direito ao sotaque artificial e ao ressentimento perante o fim que teve a Guerra Fria. (Há também Alexei e suas tatuagens que trazem “Karl” e “Marx” nos dedos, mas… ok, ele é herói.) Ora, se até a década de 1980 este tipo de caracterização talvez fizesse algum sentido sob a ótica hollywoodiana por mais ridícula que fosse, hoje soa também anacrônica, como uma caricatura que, além de absurda, não encontra sustentação alguma num mundo pós-queda do Muro de Berlim.

E “anacrônico”, no fim das contas, é uma forma perfeita de definir Viúva Negra. Ora por ter chegado mais de 10 anos atrasado ao Universo Marvel, ora por exibir a mentalidade geopolítica de alguém que há mais de 30 anos parou no tempo.

Gravei também um vídeo sobre o filme que pode ser visto aqui:

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