Minhas caras e meus caros…
… eu não me recordo de quando foi a última vez em que estive tão pouco interessado no Oscar. Sim, sei que esta é uma frase que repito a cada nova edição do prêmio, mas, nas ocasiões anteriores (principalmente na de 2020), ao menos fazia questão de assistir ao maior número possível de filmes indicados às mais diversas categorias – até os curtas.
Desta vez, contudo, minha motivação para fazer a tal “maratona do Oscar” foi próxima de zero, tanto é que deixei de assistir a vários títulos que, em anos passados, eu não deixaria passar (exemplos: não conferi nenhum dos indicados a Documentário e às categorias de Curtas). O motivo: desânimo, preguiça, previsibilidade acerca de quais serão os resultados (e a certeza de que estes, em sua maioria, não me agradarão), surgimento de uma maturidade que me faz perceber o quão frívolas são estas premiações (o que importa nelas não é mérito ou conquista, mas, sim, qual estúdio investiu mais dinheiro e fez a melhor campanha) e a sensação de “ué, por que eu preciso assistir a estes filmes que não me interessam nem um pouco?”.
Ainda assim, quando se cria o hábito de anos acompanhando a temporada de premiações e assistindo ao resultado delas no Oscar, torna-se difícil simplesmente abandonar a tradição de uma hora para outra (ou melhor: de um ano para o outro). Com isso, é claro que eu não poderia evitar a tentação de assistir a um número suficiente de filmes (pelo menos, para zerar a categoria principal) e brincar de tentar adivinhar quais serão os vencedores – por mais que absolutamente todo mundo já saiba bem quais serão. Então, resolvi manter vivo o costume que preservo desde 2015 de publicar a minha lista de palpites para o Oscar.
Não custa lembrar que a cerimônia, sediada no tradicional Teatro Dolby (em Los Angeles), irá ao ar hoje (12) às 22h30 e será transmitida pela TNT e pela HBO Max. Aliás, por falar em HBO Max, o horário do Oscar vai coincidir com o do episódio final de The Last of Us, que será exibido às 22h…
… bom, eu prefiro The Last of Us.
Mas enfim, vamos às tradicionais previsões acerca dos vencedores do Oscar:
FILME
Vai ganhar: Tudo em Todo o Lugar ao Mesmo Tempo.
Por quê? Porque… espera um pouco… vocês ainda têm alguma dúvida?! O filme dominou a temporada de premiações inteira, caramba! Venceu PGA e SAG (os dois precursores mais importantes), é um fenômeno junto a público e crítica e, ainda por cima, será a oportunidade perfeita para a Academia mudar sua fama de conservadora, premiando um longa dinâmico e totalmente condizente com as gerações mais novas.
Meu voto seria: Tár.
Se ganhar, acuso fraude: Triângulo da Tristeza (que carinhosamente apelidei de “o Parasita da quinta série”).
DIREÇÃO
Vai ganhar: os Daniels, por Tudo em Todo o Lugar ao Mesmo Tempo.
Por quê? Porque ganharam o DGA, estão na crista da onda com este filme e… (suspiro)… de novo: vocês têm alguma dúvida?
Meu voto seria: Todd Field, por Tár.
Se ganhar, não só acuso fraude como lanço a campanha #OscarAuditávelJá: Ruben Östlund, por Triângulo da Tristeza. O que diabos ele está fazendo aqui?!
ATOR
Vai ganhar: Brendan Fraser, por A Baleia.
Por quê? Porque ganhou o SAG (e vários outros prêmios-termômetro), é uma figura muito querida na indústria e está passando por uma volta por cima depois de anos ostracizado graças a um assédio sexual que sofreu por parte de Philip Berk, ex-presidente da HFPA (instituição responsável pelo Globo de Ouro). Sim, há chances de Austin Butler vencer (ele venceu o BAFTA e está realmente bem em Elvis), mas… não; a narrativa está construída. Será Fraser.
Meu voto seria: não vi Living e, portanto, não sei como está Bill Nighy, mas, se forçado a votar, acho que escolheria Brendan Fraser por causa de seu histórico mesmo.
ATRIZ
Vai ganhar: Michelle Yeoh, por Tudo em Todo o Lugar ao Mesmo Tempo.
Por quê? Porque ganhou o SAG e seria uma oportunidade de premiá-la não só por este filme (no qual está maravilhosa), mas também pela carreira inteira. Além disso, a única que poderia lhe ultrapassar seria Cate Blanchett, que já tem dois Oscars. Então, por que não apostar em Yeoh.
Meu voto seria: não vi To Leslie, então não sei se Andrea Riseborough mereceria. Assim, votaria em Cate Blanchett, por Tár.
Nem precisaria vencer; só de estar indicada já é um absurdo que justifica a criação da #OscarAuditávelJá: Ana de Armas. Vejam bem: eu amo a atriz e espero muito poder vê-la vencer o prêmio máximo da indústria um dia. Mas não por Blonde, esta aberração que coloquei no topo da minha lista dos piores filmes de 2022 e no qual Armas é colocada num papel tão equivocado (uma caricatura que reduz tanto Norma Jean quanto seu alter-ego, Marilyn Monroe, a uma coleção dos traços, tiques e maneirismos mais óbvios da segunda) que sabota quaisquer possibilidades de uma boa performance surgir dali.
ATOR COADJUVANTE
Vai ganhar: Ke Huy Quan, por Tudo em Todo o Lugar ao Mesmo Tempo.
Por quê? Porque é a figura mais fofa, simpática e querida da temporada (junto com Brendan Fraser) e ganhou praticamente todos os prêmios precursores (inclusive, o principal deles: o SAG).
Meu voto seria: Judd Hirsch, por Os Fabelmans.
ATRIZ COADJUVANTE
Vai ganhar: Jamie Lee Curtis, por Tudo em Todo o Lugar ao Mesmo Tempo.
Por quê? Porque ganhou o SAG e seria uma forma de premiá-la pela carreira inteira. Mas que fique claro: não descarto de forma alguma Angela Bassett (que venceu vários prêmios precursores e também tem uma carreira prévia notável, incluindo uma outra indicação) ou mesmo Kerry Condon (que talvez se beneficiasse de uma possível divisão de votos entre Curtis e Bassett). Mas sigo apostando em Curtis.
Meu voto seria: Kerry Condon, por Os Banshees de Inisherin (mas também gosto muito de Hong Chau, por A Baleia).
ROTEIRO ORIGINAL
Vai ganhar: Os Banshees de Inisherin.
Por quê? Porque ganhou o WGA e é a única oportunidade real de o filme não sair de mãos vazias.
Meu voto seria: Tár.
Se vencer, acuso fraude: Triângulo da Tristeza.
ROTEIRO ADAPTADO
Vai ganhar: Entre Mulheres.
Por quê? Porque venceu o WGA e é a única oportunidade real de premiar Sarah Polley (e o próprio filme).
Meu voto seria: hum… não gosto muito de nenhum dos indicados aos quais assisti (mas não assisti a Living, então…).
FILME INTERNACIONAL
Vai ganhar: Nada de Novo no Front.
Por quê? Porque é o único dos indicados a esta categoria que aparece também em Melhor Filme. Precisa de mais?
Meu voto seria: Argentina, 1985. Aliás, Close e EO também são infinitamente melhores e mais merecedores do prêmio do que aquele que vai ganhá-lo. (Não vi A Quiet Girl.)
ANIMAÇÃO
Vai ganhar: Pinóquio.
Por quê? Porque venceu os principais prêmios-termômetro (Annie, PGA, BAFTA), tem a grife “Guillermo del Toro” e a Netflix caprichou nesta campanha. (Dito isso, não acharia um choque se Gato de Botas 2 surpreendesse, já que se revelou um fenômeno inesperado.)
Meu voto seria: só vi três dos indicados e, portanto, preferiria não votar. Mas, se forçado, votaria justamente no candidato que desagradaria boa parte da audiência por ser justamente o mais óbvio: Red: Crescer é uma Fera.
DOCUMENTÁRIO
Vai ganhar: Navalny.
Por quê? Porque venceu o PGA e o BAFTA e é um filme sobre o líder da oposição contra Putin (sim, o mesmo que sofreu uma tentativa de assassinato por envenenamento em 2020 e que está preso neste exato momento).
Meu voto seria: não vi nenhum dos indicados. Não me sentiria à vontade em votar.
FOTOGRAFIA
Vai ganhar: Elvis.
Por quê? Porque venceu o principal prêmio precursor (o ASC) e seria a oportunidade de premiar uma mulher nesta categoria pela primeira vez em 95 anos de premiação (sim, é inacreditável).
Meu voto seria: O Batman. Sim, eu sei que não está concorrendo. Mas como considero sua exclusão um dos maiores absurdos desta edição, faria este voto (que se tornaria nulo) como forma de protesto.
MONTAGEM
Vai ganhar: Top Gun em Todo o Lugar ao Mesmo Maverick. (Ok, ok: Tudo em Todo o Lugar ao Mesmo Tempo.)
Por quê? Porque venceu o principal prêmio precursor (o ACE, ou “Eddie”) na categoria Melhor Comédia/Musical. Mas, como já devem ter percebido, aquele prêmio é dividido em duas categorias principais – e a outra, Melhor Drama, premiou Top Gun: Maverick, que também tem chances consideráveis de levar o Oscar aqui. Então, não descartem.
Meu voto seria: Tár.
DESIGN DE PRODUÇÃO
Vai ganhar: Babilônia.
Por quê? Porque venceu o principal prêmio precursor, o ADG – e, embora este prêmio também seja dividido em categoriais demarcadas por gêneros, os demais ganhadores (Knives Out, Tudo em Todo o Lugar ao Mesmo Tempo e Pinóquio) sequer foram indicados ao Oscar.
Meu voto seria: Avatar: O Caminho da Água.
FIGURINO
Vai ganhar: Elvis.
Por quê? Porque venceu o principal prêmio precursor, o BAFTA e é literalmente um filme sobre Elvis Presley (e que faz jus à extravagância deste).
Meu voto seria: Elvis.
MAQUIAGEM
Vai ganhar: Elvis.
Por quê? Porque venceu o principal prêmio precursor é, repetindo o que falei na categoria anterior, é um filme sobre Elvis Presley. (Ainda assim, eu estava tentado a arriscar A Baleia, já que o trabalho de maquiagem em cima de Brendan Fraser é algo que obviamente chama muita atenção. No entanto, levando em consideração que boa parte das (várias!) polêmicas relacionadas ao filme é direcionada ao fato de terem adicionado próteses e fat suit num ator para transformá-lo em gordo, acho que premiar tal trabalho seria visto como mau gosto e até como endosso à gordofobia por parte da Academia.)
Meu voto seria: Nada de Novo no Front.
EFEITOS VISUAIS
Vai ganhar: Avatar: O Caminho da Água.
Por quê? Porque já venceu todos os prêmios precursores possíveis, é um filme de James Cameron e é o único ganhador possível para qualquer um que o tenha visto.
Meu voto seria: Avatar: O Caminho da Água.
Se vencer, acuso fraude: Pantera Negra 2 (aqueles bonecos digitais horrorosos e aquele Namor saltando de um lado ao outro como se fosse uma geleca… urgh!).
SOM
Vai ganhar: Top Gun: Maverick.
Por quê? Porque é um filme que chama muito a atenção para a forma com que o som é construído, de forma a proporcionar uma experiência perfeita e a compelir o espectador a fazer questão de assistir ao longa na melhor sala de cinema possível.
Meu voto seria: Elvis.
TRILHA SONORA
Vai ganhar: Babilônia.
Por quê? Porque a parceria Damien Chazelle & Justin Hurwitz já rendeu um Oscar a ambos (por La La Land) e, sinceramente, eu desafio qualquer um a escutar “Voodoo Mama”, não ficar semanas com aquela música na cabeça.
Meu voto seria: Babilônia. (Escrevi cantarolando “Voodoo Mama”.)
Se vencer, acuso fraude: Nada de Novo no Front. Não, sério: aquele teminha que fica se repetindo e emulando um barulho mecânico de sei lá o que é simplesmente insuportável (e o filme reutiliza 25 mil vezes achando que trará tensão ao que vemos na tela).
CANÇÃO ORIGINAL
Vai ganhar: “Naatu Naatu”, de RRR (que deveria estar indicado também a Melhor Filme e Direção).
Por quê? Porque é “Naatu Naatu”. É tão viciante, contagiante e apaixonante quanto o filme que a traz.
Meu voto seria: Naaaaaaaatu Natu Natu Natu Natu Natu Natu Naaaaaatuuuuu Naaaaaatuuuuu.