Melhores 2020

Os MELHORES e os PIORES filmes de 2020

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Queridas e queridos leitores do Depois do Cinema

… 2020 foi um ano tão caótico que sinto que só estou conseguindo encerrá-lo de fato agora, dezoito dias após seu fim. É como se a porrada fosse tão forte que me deixasse desnorteado por tempo prolongado.

Os motivos, claro, todos sabem: do início ameaçando uma Terceira Guerra Mundial até a maior pandemia do último século (que nos obrigou a ficarmos sei lá quanto tempo sem podermos encontrar e abraçar uns aos outros, nos impedindo até mesmo de podermos consolar direito quem precisava), este ano ainda reservou algumas alfinetadas que seriam o fundo do poço em um ano comum, mas que soaram como fichinhas quando observadas dentro do quadro completo (a crise da água no Rio; a nuvem de gafanhotos; etc). No centro disso tudo, líderes políticos que insistiam em estimular ainda mais a apatia (logo no momento em que mais precisávamos da empatia) e em negar a Ciência e a gravidade da Covid-19 com o que parecia ser o intuito mesmo de exterminar o maior número possível de pessoas.

Nem preciso dizer que a saúde mental/psicológica/emocional foi para o espaço, fazendo minha produtividade despencar a ponto de atrasar textos e de assistir a bem menos filmes do que de costume (o que explica, portanto, a minha tradicional seleção de Melhores e Piores do Ano ter demorado a sair e trazer bem menos títulos do que de costume). Some isto ao burnout, à depressão, à ansiedade, à sensação de que não há mais saída, à descrença na Humanidade, à falta de cuidados alimentícios, às eventuais síndromes de impostor, à saudade dos amigos e ao sentimento de fracasso e… pronto, 2020 foi de longe o pior ano da minha vida (superando, inclusive, o nefasto 2018).

E, por mais que muitos insistam em ressaltar que “saímos de 2020 mais fortes”, a verdade é que eu, particularmente, não consigo valorizá-lo a este ponto. 2020 não foi uma “provação”; foi – usemos a palavra certa – uma sacanagem mesmo.

Aliás, o pavor diante de 2020 foi tão grande que me fez repensar, em retrospecto, tudo aquilo que vivi em 2019 – um ano muito rico, produtivo e cheio de oportunidades para mim, mas que deixei de valorizar apropriadamente porque, sabendo que tinha sido horrível para o resto da Humanidade, temi soar insensível. Pois aprendi lição: temos sempre que reconhecer sem culpa o que o universo proporcionou de positivo para nós, como indivíduos (o que também não significa, por outro lado, que devamos ignorar os problemas dos outros e passar por cima destes ao pregar good vibes). Assim, peço a licença de vocês para relembrar o quanto 2019 foi importante para mim: fui convidado para trabalhar na revisão do livro autobiográfico de meu adorado professor Nelson Hoineff, escrevi um artigo para o catálogo de uma mostra sobre François Truffaut, cobri o Festival do Rio pelo terceiro ano consecutivo (pelo meu próprio veículo!), conheci um monte de pessoas maravilhosas dentro do meio da Crítica, acompanhei de perto várias oportunidades de amigos queridos meus e… ora, inaugurei a versão profissional do Depois do Cinema!

Hoje, quando releio o que escrevi ao final de 2019 (“De 1º de janeiro até aqui, o ano como um todo se mostrou, no mínimo, surreal. E não adianta: nada poderia nos preparar para as dores de cabeça, para as crises emocionais constantes, para os nervos à flor da pele ou para a indignação que inevitavelmente viria a se converter – ao menos, para mim – em um cansaço físico difícil de controlar.”) e comparo ao que 2020 revelou, só me resta uma reação possível: kkkkkkkkk.

No mais, gostaria de destacar que os primeiros dois meses de 2020 (antes do Apocalipse assumir o volante em meados de março) me proporcionaram um dos momentos mais felizes, importantes e inesquecíveis de toda a minha vida: o convite para participar da live do Oscar organizada pelo canal Pipocando, apresentado pelos queridos Bruno Bock e Rolandinho. Participar daquele evento e dividir aquele espaço com pessoas tão maravilhosas são o que me impedem de dizer que 2020 foi uma perda total – ao menos, para mim.

E, por último, não consigo não me sentir privilegiado – mesmo em um ano catastrófico como este – por contar com o apoio de amigos e amigas tão queridas quanto as que tenho. Que celebraram os bons momentos comigo, que mantiveram meus pés no chão nos dias mais dramáticos e que me ajudaram a atravessar 2020 de um jeito que, sozinho, eu não seria capaz. São amizades assim que, acreditem, fazem a vida valer a pena. <3

Bom, agora vamos ao assunto principal: a minha lista de MELHORES e PIORES filmes de 2020. Como todos sabem, este foi um ano atípico cinematograficamente falando, já que um monte de títulos previstos para estrear em 2020 foram empurrados para 2021 ou disponibilizados em streaming graças a esta desgraça chamada Covid-19. Dito isso, quais os critérios que levei em consideração ao montar esta seleção? O de sempre: os filmes lançados comercialmente no Brasil (seja em cinemas ou em streaming). No entanto, desta vez me reservei o direito de incluir também alguns títulos que passaram apenas por festivais online, já que estes permitiram que muito mais espectadores tivessem acesso a eles.

Mas antes de partir para os filmes, gostaria de fazer uma “menção honrosa” a uma das melhores obras audiovisuais que consumi em 2020: The Last of Us: Part II, um game estruturalmente ambicioso, dramaticamente cuidadoso, tematicamente complexo e essencialmente humanitário. Um exemplo inequívoco da empatia que tanto faltou à Humanidade em 2020 sendo colocada à prova – e gravei dois vídeos sobre o jogo: um sem spoilers e outro, com.

Ah, e confira também as listas de melhores e piores dos anos anteriores: 2019, 2018, 2017 e 2016!

Agora, sim, vamos lá!

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Os 10 MELHORES filmes de 2020:

  1. Destacamento Blood (Da 5 Bloods, EUA, 2020)

Uma obra potente, ambiciosa ao desenvolver seus personagens e madura ao discutir seus temas, o que se deve ao profundo conhecimento de Spike Lee acerca de sua causa.” – Crítica completa aqui.

  1. Babenco – Alguém Tem Que Ouvir o Coração e Dizer: Parou (Idem, Brasil, 2019)

Mais interessado na morte do que na vida de Babenco, este documentário de Bárbara Paz é um lembrete de como a vida é efêmera mesmo para ícones como o cineasta biografado.” – Crítica completa aqui.

  1. Retrato de uma Jovem em Chamas (Portrait de la jeune fille en feu, França, 2020)

Dramaticamente rico e ambicioso, o longa de Céline Sciamma demonstra como a Arte exerce o importante poder de unir pessoas.” – Crítica completa aqui.

  1. O Farol (The Lighthouse, EUA, 2019)

Mergulha o espectador em uma atmosfera de tormento que, por si só, nos lembra de como os maiores horrores são aqueles que começam dentro de nossas cabeças.” – Crítica completa aqui.

  1. AmarElo: É Tudo pra Ontem (Idem, Brasil, 2020)

Ao longo de ligeiros 89 minutos, este documentário nos leva a constatar como a Arte de Emicida é fruto de séculos de História, lembrando também da importância de apoiarmos a luta do Outro em conjunção à nossa.

  1. Cabeça de Nêgo (Idem, Brasil, 2020)

O que torna este longa tão poderoso é o fato de usar uma situação em pequena escala (um insulto racista em sala de aula que leva à punição justamente da vítima) para mostrar como a indignação e a mudança social começam em nosso dia a dia.

  1. Nunca, Raramente, Às Vezes, Sempre (Never Rarely Sometimes Always, EUA/Inglaterra, 2020)

Uma obra que faz o espectador sentir na pele a frieza e o desespero representados pela situação vivida pela protagonista – e que, por consequência, se mostra obrigatória para qualquer um que queira (ou melhor: que precise) entender o sofrimento ao qual tantas mulheres são submetidas diariamente. – Crítica completa aqui.

  1. Sertânia (Idem, Brasil, 2020)

É fascinante (e, a meu ver, tocante) ver um veterano como Geraldo Sarno voltar à ativa e demonstrar que, mesmo após décadas de carreira, ele segue um artista tematicamente relevante e esteticamente ambicioso.” – Crítica completa aqui.

  1. Soul (Idem, EUA, 2020)

Divertida, tocante e ambiciosa, esta nova produção da Pixar é um lembrete de como devemos aproveitar a vida sem nos deixar definir apenas por sonhos eternos ou pela busca por um propósito.” – Crítica completa aqui.

  1. Joias Brutas (Uncut Gems, EUA, 2019)

Trazendo Adam Sandler em uma performance que merecia os principais prêmios da indústria, Joias Brutas é hábil ao criar uma atmosfera que mantém o espectador angustiado até nos momentos mais calmos e pausados da narrativa.” – Crítica completa aqui.

 

Outras 18 menções honrosas (em ordem ALFABÉTICA):

1917 (Idem, EUA, 2019)

Borat: Fita de Cinema Seguinte (Borat Subsequent Moviefilm, EUA, 2020)

Cavalo (Idem, Brasil, 2020)

O Caso Richard Jewell (Richard Jewell, EUA, 2019)

Corpus Christi (Boże Ciało, Polônia, 2019)

Crip Camp: Revolução pela Inclusão (Crip Camp, EUA, 2020)

Dois Irmãos: Uma Jornada Fantástica (Onward, EUA, 2020)

O Homem Invisível (The Invisible Man, EUA, 2020)

Indianara (Idem, Brasil, 2019)

Um Lindo Dia na Vizinhança (A Beautiful Day in the Neighborhood, EUA, 2019)

O Preço do Talento (Honey Boy, EUA, 2019)

O Que Ficou para Trás (His House, Inglaterra, 2020)

Sibéria (Idem, Alemanha/Itália/México, 2020)

O Som do Silêncio (Sound of Metal, EUA/Bélgica, 2019)

Shaun, o Carneiro: A Fazenda Contra-Ataca (Shaun the Sheep Movie: Farmageddon, Inglaterra, 2019)

A Vastidão da Noite (The Vast of Night, EUA, 2020)

Uma Vida Oculta (A Hidden Life, EUA, 2019)

Você Não Estava Aqui (Sorry We Missed You, Inglaterra, 2019)

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Os 10 PIORES filmes de 2020:

  1. O Escândalo (Bombshell, EUA, 2019)

É o que acontece quando um cineasta que não conhece certo assunto (no caso, o assédio sexual) decide fazer um filme sobre ele.” – Crítica completa aqui.

  1. Dolittle (Idem, Inglaterra, 2020)

Longe de ser o desastre que anunciaram, esta nova versão do Dr. Dolittle tampouco é boa, não passando de um sub-Piratas do Caribe esquecível e sem personalidade. – Vídeo sobre o filme aqui.

  1. O Céu da Meia-Noite (The Midnight Sky, EUA, 2020)

Uma ficção científica que falha em desenvolver suas ideias e ao equilibrar-se entre tramas paralelas mais ou menos interessantes que outras.

  1. Harriet (Idem, EUA, 2019)

Falha em retratar o arco de sua protagonista com a força que ela merecia – algo que uma cineasta como Ava DuVernay, por exemplo, tiraria de letra.

  1. Judy: Muito Além do Arco-Íris (Judy, EUA, 2019)

A sensação que toma conta do espectador quando esta cinebiografia chega ao fim é a de não ter aprendido nada de novo sobre sua biografada, Judy Garland.” – Crítica completa aqui.

  1. Sergio (Idem, EUA, 2020)

Um filme com zero capacidade de se aprofundar no próprio conteúdo (a vida de Sergio) e que, para disfarçar isso, tenta investir numa estrutura mais “complexa”. E o resultado, claro, é uma bagunça completa. – Vídeo sobre o filme aqui.

  1. Mulan (Idem, EUA, 2020)

É uma pena que, em sua versão live-action, Mulan tenha se tornado uma heroína sem personalidade e que tem suas decisões tomadas pelos outros (sejam estes os homens da trama ou… bom, o ‘destino’).” – Crítica completa aqui.

  1. Os Novos Mutantes (The New Mutants, EUA, 2020)

Uma obra genérica que tenta, de forma cínica, esconder sua falta de personalidade disfarçando-se de filme de terror.” – Crítica completa aqui.

  1. Era uma Vez um Sonho (Hillbilly Elegy, EUA, 2020)

O que o desespero em ganhar o Oscar não faz…?

  1. 365 Dias (365 DNI, Polônia, 2020)

Quando você achava que Cinquenta Tons de Cinza tinha acabado, ele retorna pior, mais forte e mais moralmente repugnante.

Mais para explorar

Planeta dos Macacos: O Reinado | Crítica

Às vezes parece um exemplar “menor”, menos ambicioso e um pouco menos eficaz – mas segue indicando que a série tem vida longa pela frente.

Guerra Civil | Crítica

Como espetáculo de ação, Guerra Civil é uma obra tecnicamente eficiente. Como tese – que obviamente tenta ser – sobre algum tema mais amplo, é um filme que reflete as velhas e costumeiras limitações de Alex Garland.

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