Sem Tempo para Morrer (2)

Os MELHORES e os PIORES filmes de 2021

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Queridas e queridos leitores do Depois do Cinema

… 2021 foi o pior ano de toda a minha vida.

Sim, eu sei que, no texto introdutório da minha lista de melhores e piores filmes que vi em 2020, escrevi a mesma coisa. “Some isto [todos os eventos daquele ano] ao burnout, à depressão, à ansiedade, à sensação de que não há mais saída, à descrença na Humanidade, à falta de cuidados alimentícios, às eventuais síndromes de impostor, à saudade dos amigos e ao sentimento de fracasso e… pronto, 2020 foi de longe o pior ano da minha vida (superando, inclusive, o nefasto 2018).” – foi o que escrevi sobre o ano passado (agora, retrasado).

Assim, imagino que iniciar este texto sobre 2021 repetindo exatamente as palavras que usei para descrever 2021 – “o pior ano da minha vida” – pode dar a entender que encaro a passagem dos anos e as coisas ruins da vida de forma inconsequente, imediatista ou até dramática demais. “Ah, quer dizer então que todos os anos são os piores da vida dele?”, vocês podem se perguntar.

E eu entendo a reação, mas peço também a oportunidade de explicar por que 2021 foi, sim, o pior ano da minha vida – sem exageros ou draminhas de minha parte.

Num âmbito global – ou seja: encarando as coisas além apenas de mim –, 2021 deve ter sido um ano melhor para o resto do planeta, menos para o Brasil. Afinal, embora boa parte do mundo tenha iniciado a vacinação contra a COVID-19, nós ainda vivemos sob o (des)governo genocida e neofascista de Jair Bolsonaro. Não à toa, em meu texto sobre 2020, cheguei a apontar o “estímulo à apatia” e a negação da Ciência e da gravidade do coronavírus, no que (recitando minhas palavras) “parecia ser o intuito mesmo de exterminar o maior número possível de pessoas”. E qual não foi a surpresa de chegar ao ano seguinte e ver este merda boicotar a compra de vacinas, continuar debochando das famílias enlutadas, desencorajar o uso de máscaras e o distanciamento social no pior momento da pandemia, dizer que “contaminação é até mais eficaz que vacina”, voltar a recomendar à população um remédio comprovadamente ineficaz e, mais recentemente, alegar que o número de crianças mortas pela doença “não justifica algo emergencial”.

E detalhe: tudo isso em 2021, depois de toda a catástrofe que já havia sido 2020! Assim, com as políticas assassinas deste verme sanguinário, começamos o ano com 200 mil mortos (o total de 2020) e vimos o número disparar para mais de 600 mil – e de novo: isso depois que a vacina foi aprovada pelos órgãos mundiais de Saúde e oferecida ao governo brasileiro). Enquanto várias regiões do mundo viam a COVID arrefecer, o Brasil chegava a bater mais de 4 mil mortes diárias e vivia justamente seu pior momento na pandemia – e lembrando: já existia vacina. Isso sem mencionar as várias suspeitas de corrupção (superfaturamento e cobrança de propinas) acerca da compra de vacinas.

Em outras palavras: não foi “incompetência”; foi projeto. Não foram “equívocos”; foi um morticínio planejado que envolvia indivíduos explorando vacinas – no auge da maior pandemia do último século! – como fonte de propinas.

Lembre-se disso nas próximas eleições, ok?

Mas enfim… saindo das questões de âmbito geral, social, há também as questões pessoais. (Tudo que relatei anteriormente também abalou minha saúde mental, é claro.)

Ah, e confira também as listas de melhores e piores dos anos anteriores: 2020, 201920182017 e 2016!

Agora, sim, vamos lá!

 

OS 10 MELHORES FILMES DE 2021

10. Luca (Idem, EUA, 2021)

Lançado em meados de Junho (mês do Orgulho LGBTQIA+), Luca não é sutil ao estabelecer alegorias para a homofobia do mundo real, já que, para os caçadores de Portorosso, a simples existência de seres como o protagonista já é motivo de ódio e violência. Assim, a jornada de “autoaceitação” vista no filme deixa de ser apenas um mantra clichê e assume um papel ainda maior, refletindo toda uma comunidade que resolve levantar a cabeça e se aceitar como é. (…) E é claro que isto cabe em uma fábula – ainda mais em uma que reflete a época na qual foi produzida; uma época na qual a Sociedade presencia uma constante (e indispensável) mudança de mentalidades e costumes. Sim, podemos – e devemos – sempre questionar as reais intenções de uma produção da Disney que se proponha a entrar num assunto como este (afinal, sabemos que o interesse de uma empresa multibilionária e imperialista por diversidade não parte de princípios ou ideologias, mas de vontade de ganhar dinheiro). Ainda assim, é fato que uma das formas mais eficientes de se lutar pela causa LGBTQIA+ é através da normalização da presença destes: quando mais gays, lésbicas, trans, queers, assexuais, não-binários, etc, passam a ocupar e a aparecer em mais espaços, menos eles são compreendidos (pelos que estão ao seu redor) como uma “minoria” escondida em algum lugar, sendo percebidos como parte integral e, acima de tudo, natural da Sociedade como um todo.” – Crítica completa aqui.

 

9. Cry Macho: O Caminho para Redenção (Cry Macho, EUA, 2021)

Aos 91 anos, Clint Eastwood se presta a tentar se atualizar e se comunicar com quem lhe é diferente. Sim, é verdade que Cry Macho se utiliza de estereótipos problemáticos (e a primeira meia hora de projeção me deixou preocupado quanto ao caminho que Eastwood tomaria aqui, já que as caracterizações dos mexicanos me pareceram, de modo geral, anacrônicas). No entanto, à medida que a projeção avança, o cineasta se mostra bem mais progressista do que muitos que se proclamam como tais, alcançando um resultado particularmente tocante não só ao estabelecer uma relação de afeto com um menino mestiço, mas também ao mostrar como é possível se complementar através de um encontro com indivíduos de outros grupos/classes/gêneros/nacionalidades/credos. No caso, indivíduos pertencentes à comunidade que o governo Trump e a maioria do Partido Republicano mais massacraram, massacram e prometem voltar a massacrar. Que Eastwood se escale para ser o protagonista de Cry Macho lhe permite, também, repensar a própria figura do caubói (leia-se: do mito americano) que estabeleceu ao longo dos últimos 60 anos e que aqui ressurge vulnerável, envelhecida, marcada pelas dores jamais cicatrizadas do passado e que hoje são capazes de levá-lo mais do que nunca às lágrimas. Sai o ícone “durão” e entra o ser humano com coração. Mas sem abandonar o chapéu de vaqueiro.

 

8. Marighella (Idem, Brasil, 2021)

Não é uma biografia que se propõe a transformar seu biografado em uma deidade infalível (o que, em qualquer circunstância, seria dramaticamente desinteressante); é uma biografia que propõe algo que há muito o Brasil deveria ter feito: contar ao público e ao povo a História de seu país, de seus heróis e de seus vilões. Pois é justamente relembrando os crimes do passado que nos certificamos de não permitir que estes se repitam – uma lição que, a julgar pelo saudosista da ditadura que temos ocupando a presidência da República hoje e pelos milhares (!) de militares que temos ocupando cargos importantes neste governo genocida e neofascista, estamos custando a aprender.

 

7. 007 – Sem Tempo para Morrer (No Time to Die, Inglaterra, 2021)

Um ponto final perfeito para uma saga de cinco filmes que, estrelados por Daniel Craig, pode não ter sido totalmente consistente, mas certamente cumpriu maravilhosamente bem a função de desconstruir James Bond em meio ao mundo moderno, discutindo a desimportância dele (e do MI6) no século 21 e repensando o símbolo antiquado que aquele herói representa(va). Agora, 007 é um homem claramente vulnerável (não só física, mas emocionalmente), que sente as dores do passado e que percebe a paz, para um indivíduo como ele, é inalcançável; que qualquer tentativa de se desgarrar de sua missão resultará em tragédia, em frustrações e, sim, em morte. (…) Não apenas se estabelece como o capítulo mais melancólico de toda a série (e um dos mais emocionantes), como também faz as pazes com um dos melhores, mais injustiçados e mais influentes filmes de 007 já feitos: A Serviço Secreto de Sua Majestade. Como diria Louis Armstrong, o James Bond de George Lazenby e agora o de Daniel Craig, ‘We Have All the Time in the World’.

 

6. Cine Marrocos (Idem, Brasil, 2020)

Num país com mais da metade da população sem ter sequer garantia de comida na mesa e com mais de 33 milhões de pessoas sem terem onde morar (e com mais de 6 milhões de imóveis vazios, prontos para serem ocupados, mas restringidos por alguma cláusula ou ordem judicial), chamar as famílias e os trabalhadores que se juntam em movimentos como MST e MTST, a fim de reivindicar o básico (comida e moradia), de ‘vagabundos’ e/ou ‘terroristas’ (como costuma fazer o presidente Jair Bolsonaro e seus apoiadores igualmente canalhas) é um ato imoral. (…) É por isso que, num Brasil como este no qual vivemos, um documentário como Cine Marrocos assume um papel fundamental ao nos lembrar de algo que deveria ser óbvio, mas que, graças à apatia da sociedade (bancada pela elite interessada em mantê-la apática), há muito deixou de ser: os indivíduos que ocupam um prédio abandonado e que sobrevivem através de caridades (ou do pouco pelo que conseguem pagar) são seres humanos com sentimentos, desejos, memórias, dores e histórias reais – e o simples fato de sobreviverem já é fruto de um esforço árduo que torna impossível chamá-los de ‘vagabundos’.” – Crítica completa aqui.

 

5. Bob Cuspe, Nós Não Gostamos de Gente (Idem, Brasil, 2021)

Uma das criações mais memoráveis do cartunista Angeli nos anos 1980, o punk Bob Cuspe ressurge em um filme que parece perfeitamente condizente com seu estilo particular. Misto de documentário e animação stop-motion, o projeto (que levou quase 10 anos para ser concluído e chegar às telonas) consegue a proeza de ser uma celebração da obra de Angeli (e dos quadrinhos da Chiclete com Banana de modo geral) e, ao mesmo tempo, uma crítica direta à estagnação artística do próprio, trazendo depoimentos do cartunista reconhecendo seus bloqueios criativos e optando por matar Bob Cuspe (que ele dizia conter um pouco do próprio Angeli) assim como matara Rê Bordosa, na década de 1980 – no que o filme “responde” criando uma história (fictícia) dentro da mente do entrevistado na qual o personagem em questão decide ir ao mundo real em busca de seu criador, impedindo-o de eliminá-lo. É entrevista, mas também é intervenção; é homenagem, mas também é crítica frontal. E é, também, uma das coisas mais divertidas que vi nos últimos 12 meses.

 

4. Ataque dos Cães (The Power of the Dog, Inglaterra, 2021)

Gênero historicamente associado a tipos durões e mal-encarados que seriam adotados como exemplos de virilidade pelos ‘machões’, o western é revisitado em Ataque dos Cães sob uma ótica tão introspectiva e sensível quanto todos aqueles planos-detalhe que mencionei no início já indicavam – uma revisitação que a diretora Jane Campion cumpre com o objetivo de voltar a um gênero presente nas bases do Cinema norte-americano a fim de reavaliar, também, as bases da própria fundação da América (…), enfocando como as dinâmicas de poder (pautadas por gênero e sexualidade) são uma doença presente na própria fundação daquele que se gaba como um ‘país livre’. (…) Em outras palavras: a homofobia e a misoginia são componentes da própria gestação da América como a conhecemos. (…) Com isso, o arquétipo do caubói viril, rígido e/ou carrancudo é não apenas desconstruído, mas confrontado pela abordagem de Campion.” – Crítica completa aqui.

 

3. À l’abordage (Idem, França, 2020)

Se o novo filme do francês Guillaume Brac encanta, é em função da amizade de três jovens que, por conta da idade e de tudo que ainda não viveram, extraem o máximo possível de vitalidade e encantamento dos pequenos momentos que experimentam juntos – e é apropriado, portanto, que boa parte da projeção se dedique a somente mostrá-los pelo tempo que Brac julgar necessário (independente se estes ‘contribuem’ para levar a narrativa adiante, já que isso simplesmente não importa neste caso). São momentos de alegria como os experimentados pelos protagonistas de À l’abordage! que, afinal, tornam a vida digna de ser vivida.” – Crítica completa aqui.

 

2. Annette (Idem, Alemanha/Bélgica/EUA/França/Japão/México/Suíça, 2021)

Novo trabalho do francês Leos Carax (Holy Motors), este musical faz jus à mentalidade ambiciosa e plasticamente suntuosa de seus personagens, que, no caso, são a cantora Ann Defrasnoux e o já citado comediante de stand-up Henry McHenry. (…) Assumindo desde o primeiro minuto de projeção o caráter lúdico e, principalmente, farsesco que se sobressairá nas mais de duas horas seguintes, o filme não só abraça como leva ao extremo o melodrama proposto pela abordagem de  Carax – e que o professor Patrice Pavis descreve como um gênero teatral cujo objetivo era criar uma “identificação fácil” no espectador, dependendo menos da complexidade do texto e mais de ‘grandes reforços de efeitos cênicos’. (…) Como podem perceber, a literalidade das letras das músicas de Annette não torna sua narrativa menos sombria nem diminui a ambiguidade de seus temas e de seus personagens. Talvez esta seja uma das grandes proezas de Leos Carax: mostrar como o melodrama não é um gênero ‘menor’, ‘menos potente’ ou ‘menos verdadeiro’ por ser mais direto nos efeitos catárticos que busca provocar – e basta se deparar com um filme como este para notar que não faz sentido usar o termo “melodramático” (ou “teatral”, ou “novelesco”) de forma pejorativa.” – Crítica completa aqui.

 

1. Meu Pai (The Father, Inglaterra, 2019)

Assistir a Meu Pai foi revisitar tudo que vivenciei na infância e perceber, através do exercício de empatia conduzido com maestria pelo estreante Florian Zeller, como era estar dentro de uma consciência que aos poucos se vê ir embora, sentindo na pele a deterioração do corpo, da identidade e, por último, da dignidade de um homem. (…) Ainda assim, se há um fator determinante para que Meu Paime levasse às lágrimas copiosas não só durante, mas cerca de uma hora depois da sessão terminar (eu pensava no filme e já tornava a ficar melancólico), este chama-se Anthony Hopkins, que, aos 83 anos, consegue a proeza de realizar o que talvez seja a melhor performance de toda a sua carreira – e digo isto sabendo que esta carreira já seria impressionante o bastante caso tivesse terminado antes.” – Crítica completa aqui.

 

OUTROS 17 TÍTULOS QUE MERECEM MENÇÃO HONROSA:

Acqua Movie (Idem, Brasil, 2019)

Amor, Sublime Amor (West Side Story, EUA, 2021)

Bela Vingança (Promising Young Woman, EUA, 2020)

A Crônica Francesa (The French Dispatch, EUA, 2021)

Curral (Idem, Brasil, 2020)

Duna: Primeira Parte (Dune: Part One, EUA, 2021)

O Esquadrão Suicida (The Suicide Squad, EUA, 2021)

A Família Mitchell e a Revolta das Máquinas (The Mitchells vs. the Machines, EUA, 2021)

First Cow: A Primeira Vaca da América (First Cow, EUA, 2020)

Homem-Aranha: Sem Volta para Casa (Spider-Man: No Way Home, EUA, 2021)

Judas e o Messias Negro (Judas and the Black Messiah, EUA, 2021)

Maligno (Malignant, EUA, 2021)

Matrix Resurrections (The Matrix Resurrections, EUA, 2021)

Noite Passada em Soho (Last Night in Soho, Inglaterra, 2021)

Turma da Mônica: Lições (Idem, Brasil, 2021)

Undine (Idem, Alemanha, 2020)

Vento Seco (Idem, Brasil, 2020)

 

OS 10 PIORES FILMES DE 2021

10. A Menina Que Matou os Pais (Idem, Brasil, 2021) e O Menino Que Matou Meus Pais (Idem, Brasil, 2021)

No fim das contas, o erro fatal de A Menina… e O Menino… consiste em não acrescentar absolutamente nada às discussões sobre o caso Richthofen, criando uma dramatização que não funciona pelo simples fato de seu propósito parecer… inútil – afinal, por mais que os longas tentem esforçadamente gerar um mistério do tipo “quem está mentindo?” ou “quem é o(a) assassino(a)?”, os esforços fracassam pelo simples fato de que acompanhamos exaustivamente o caso na época e sabemos a conclusão daquilo tudo. (…) Não há absolutamente nada de propositivo em A Menina…/O Menino… enquanto peça artística; apenas uma ilustração literal e “imparcial” dos depoimentos de Suzane von Richthofen e Daniel Cravinhos – depoimentos estes que, de novo, sabemos que foram mentirosos em maior ou menor grau, ditos para aliviar o lado de um ou de outro. (…) Ao menos, Carla Diaz está ótima no papel principal.” – Crítica completa aqui.

 

9. Tom & Jerry – O Filme (Tom & Jerry, EUA, 2021)

Criados em 1940 pelos mesmos William Hanna e Joseph Barbera que mais tarde fundariam a Hannah-Barbera, Tom e Jerry já haviam estrelado um longa-metragem para os cinemas em 1992, mas com resultados desastrosos. Agora, 29 anos depois, a dupla volta para mais uma aventura (desta vez, durando 101 minutos) e os resultados mais uma vez são decepcionantes. Ok, não é uma aberração (o diretor Tim Story já fez coisas muito piores), mas é um filme que carece da graça e da espontaneidade que imortalizaram Tom e Jerry. Raramente alcançando feitos interessantes através do cruzamento entre live-action e animação tradicional (mais um “filho” de Uma Cilada para Roger Rabbit que falha em honrar a imaginação de seu progenitor), o novo longa comete o pior erro que uma obra chamada Tom & Jerry poderia cometer: não ter a mínima ideia do que fazer com os dois personagens-título, criando, com isso, uma historinha boba e desinteressante sobre os esforços de Chloë Grace Moretz para virar gerente de um hotel. Assim, Tom e Jerry ficam alheios à narrativa, como se custassem a se encaixar na trama de um filme que deveria ser sobre eles, deixando nítido o desespero dos roteiristas em encontrar alguma função para os personagens, alguma situação que os comporte de alguma forma. Ao menos, há o carisma de Moretz e uma ou outra coisinha engraçada feita por Tom ou por Jerry para tornar o saldo final minimamente suportável – mas não menos frustrante.

 

8. O Homem Que Vendeu Sua Pele (Ar-rajul allaḏī bāʿa ẓahrihu, Tunísia, 2020)

Um longa que propõe discussões interessantes e promissoras (a respeito de como as indústrias contemporâneas tendem a transformar o indivíduo em produto de forma descarada, nem sequer escondendo seu interesse em privá-lo da liberdade em prol do lucro para si – não para ele), mas que prefere descartá-las em nome de uma narrativa completamente perdida, de diálogos que só desenvolvem os temas do filme até certo ponto e da abordagem sensacionalista da diretora Kaouther Ben Hania, que parece se importar muito mais com o choque gráfico (uma cirurgia vista em planos-detalhe, uma pereba sendo estourada de perto (ou algo assim), etc) do que com as discussões que o próprio projeto sugere levantar. No fim, acaba tão superficial quanto a parte da atual indústria da Arte que busca criticar.

 

7. Space Jam: Um Novo Legado (Space Jam: A New Legacy, EUA, 2021)

Se Space Jam, por mais irregular que fosse, despertou o interesse de uma geração inteira por basquete (até perdi a conta de quantos amigos meus decidiram treinar o esporte influenciados por aquele filme) e ajudou a manter a imagem de Michael Jordan viva no imaginário infantil daquela época, Space Jam 2 dificilmente trará qualquer impacto (positivo ou negativo) à já monumental carreira de LeBron James e provavelmente não precisará de muito tempo até cair no completo esquecimento.” – Crítica completa aqui.

 

6. Eternos (Eternals, EUA, 2021)

Chloé Zhao parecia uma escolha adequada para um projeto que, afinal, gira em torno de personagens que, embora superpoderosos, evitam qualquer arroubo de megalomania ou heroísmo e buscam introspecção em campos e cidadezinhas pacatas, longe do caos urbano. Infelizmente, o que vemos na prática é um choque de visões criativas e formais que, dividido entre a voz de Zhao e o compromisso em se encaixar nos padrões estilísticos da Marvel, se revela um caos absoluto, uma coisa ao mesmo tempo aborrecida demais para entreter e tola demais para ser considerada ‘profunda’.”  – Crítica completa aqui.

 

5. A Família Addams 2: Pé na Estrada (The Addams Family 2, EUA, 2021)

Rebaixando-se a uma variação genérica de qualquer continuação de Hotel Transilvânia, este “novo” A Família Addams 2 é um caça-níqueis descarado, uma obra que nem tenta esconder o fato de que nada tem a oferecer além da cara-de-pau de arrancar uns trocados do público às custas da simpatia deste por aqueles personagens. Apenas razoável do ponto de vista técnico (não há nada que mereça destaque na animação, em particular), o filme cria uma traminha aborrecida e que se torna ainda pior ao ser conduzida pelos Greg Tiernan e Conrad Vernon com total desinteresse, limitando-se a uma colagem de situações isoladas, episódicas, que, além de frouxas em sua conexão umas às outras, revelam-se simplesmente sem graça, falhando na maioria de suas tentativas de arrancar o riso do espectador. E quando parece que não há como piorar, o terceiro ato abandona qualquer traço da personalidade divertidamente macabra dos Addams e passa a se concentrar em robôs, fórmulas que transformarão indivíduos em polvos, bases de supervilões regadas a tecnologia. Mas o humor “alucinante, arrepiante, chocante” da Família Addams, que é bom, sumiu.

 

4. Malcolm & Marie (Idem, EUA, 2021)

É o que acontece quando um cineasta incapaz de ouvir uma crítica por um trabalho passado resolve fazer um filme para despejar todo o seu ressentimento não só pela pessoa que o criticou, mas por toda a classe de profissionais que, identificados como ‘críticos’, se encarregam de falar, debater e pensar sobre Cinema. Além disso, é também o tipo de obra que, desesperada em angariar elogios por parte de um grupo de espectadores que se sentem mais intelectuais apenas por pertencerem à elite econômica, tenta perfumar sua narrativa com decisões estéticas que não passam de mero fetiche e com diálogos que, embora fingindo discutir o sentido da Arte e as relações interpessoais, se mostram vazios em ambos os casos, levando um a sacrificar o outro.” – Crítica completa aqui.

 

3. Um Príncipe em Nova York 2 (Coming 2 America, EUA, 2021)

De certa maneira, o século 21 meio que estragou Um Príncipe em Nova York. E não digo isso me referindo a coisas como “politicamente correto” nem nada disso (eu lá tenho cara de boomer que reclama destas coisas?). Na verdade, o problema é outro: se o (ótimo) primeiro filme, de 1988, mesmo carregado de nudez, obscenidades, palavrões, etc, ainda era repleto de ingenuidade (e de uma certa inocência), esta continuação partiu para uma vibe completamente cínica, na qual o filme se reconhece como filme e, com isso, passa a fazer um monte de brincadeirinhas referentes à sua própria natureza fílmica, a elementos do mundo contemporâneo e – o mais significativo – à cultura pop de modo geral. Sintoma deste mundo pós-Deadpool que tomou conta de Hollywood: agora, não há mais espaço para personagens “ingênuos”, “inocentes”, em uma comédia norte-americana; agora, todos os protagonistas deste tipo de produção têm que ser espertinhos, reconhecer-se como parte de um filme e ficar comunicando isso o tempo inteiro ao público através de referenciazinhas bobas, sem graça. Urgh! Gravei vídeo sobre o filme aqui.

 

2. Espiral: O Legado de Jogos Mortais (Spiral: From the Book of Saw, EUA, 2021)

Não nego que Chris Rock me fez rir em vários momentos de Espiral – o problema é que nenhuma destas risadas era intencional; apenas resultavam da sensação de que o ator estava de brincadeira o tempo todo. (…) E, depois de nove longas que sugaram até as últimas instâncias o que James Wan tinha apresentado em 2004, a hora de parar já chegou há muito tempo. Jigsaw, seu copycat e os responsáveis por esta franquia já foram longe demais.” – Crítica completa aqui.

 

1. Mortal Kombat (Idem, EUA, 2021)

Na ânsia de faturar algumas dezenas de milhões de dólares às custas do interesse do público e dos fãs por uma adaptação de Mortal Kombat, os responsáveis por esta aberração acabaram dando um ‘fatality‘ no espectador. E pensar que o trem chegou à estação para, 126 anos depois, um troço destes ser o que faz multidões lotarem as salas de cinema é algo que, confesso, me faz mergulhar num estado profundo de desânimo e frustração.” – Crítica completa aqui.

***

(Lembre-se: a pandemia não acabou. Se for sair de casa e ir ao cinema, siga todos os cuidados sugeridos pelas organizações sérias de Saúde: use máscara, mantenha uma distância segura dos demais espectadores, evite se aglomerar e – o mais importante – vá ao posto tomar sua vacina. Se já tomou a primeira dose, tome a segunda. Se já tomou a segunda e já chegou a vez de tomar a terceira, tome a terceira – se ainda não chegou, espere e vá assim que ela estiver disponível. É triste ter que escrever isto, mas… não escute o atual presidente da República (ou mesmo seu ministro da Saúde): vacine-se e proteja-se. Só assim conseguiremos construir um caminho para finalmente vencermos a COVID-19 e sairmos desta crise que ninguém aguenta mais. #ForaBolsonaro)

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